RELATO DE CASO: ACIDOSE METABÓLICA COM ÂNION GAP ELEVADO SECUNDÁRIA AO ACÚMULO DE ÁCIDO PIROGLUTÂMICO (5-OXOPROLINA)

Área: Medicina

Ana Flávia Gallas Leivas
HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE

anafgleivas@gmail.com

Ana Flávia Gallas Leivas
André Cardoso Braun
Edino Parolo
Rafael Barberena Moraes

Introdução: Acidose metabólica (AM) com ânion GAP elevado é evento frequente e tem como causas comuns disfunção renal, cetoacidose diabética, intoxicação exógena por salicilatos, etanol ou metanol, acidose lática e, menos frequentemente, acúmulo de ácido piroglutâmico. Materiais e métodos: Mulher, HIV+ em uso de TARV, internada para investigação de astenia, dor abdominal, constipação e inapetência, além de sonolência e fraqueza muscular progressiva. Admitida com dores musculares e perda de força difusa ao exame físico. Perda de função renal e hipercalcemia, iniciado tratamento de hipercalcemia e analgesia com dipirona e paracetamol. Investigação do quadro com lesões osteolíticas em crânio, arcos costais, coluna vertebral e bacia; TC de abdome monstrando lesões expansivas, nodulares e heterogêneas em corpo e antro gástrico com infiltração de mesocólon adjacente. EDA com lesão vegetante gástrica ulcerada positiva para linfoma não-Hodgkin difuso de grandes células B. Evoluiu com rebaixamento de nível de consciência, insuficiência respiratória e necessidade de VM. Admitida na UTI com AM com ânion GAP aumentado secundária a ânions não-mensurados, cetonas negativas, sem disfunção renal ou hepática, exposição ao etanol ou metanol, mas com exposição ao paracetamol, confirmada pela dosagem de ácido piroglutâmico elevada na urina. Iniciada terapia dialítica, evoluiu com melhora do padrão neurológico e ventilatório, extubada após 12 dias de internamento em UTI, recebeu alta para enfermaria, mas foi a óbito por limitação de esforços invasivos definida pela neoplasia de base. Discussão e conclusão: A toxicidade do paracetamol é classicamente descrita pela injúria ou falência hepática causada pelo acúmulo de N-acetil-p-benzoquinonaimina e, em raros casos, é descrita AM com ânion GAP elevado na ausência de disfunção hepática. Esta deve ser sempre uma hipótese considerada em casos de acidose metabólica inexplicada, pois tem tratamento acessível e pode prevenir mortalidade.